ENTREVISTA COM O PROF. JOSÉ GOLDEMBERG
ENTREVISTA COM O PROF. JOSÉ GOLDEMBERG, CONVERSANDO SOBRE VÁRIOS TEMAS MUNDIAIS ATUAIS NA ÁREA ENERGÉTICA, CONCEDIDA AO BLOG FONTES DE ENERGIA EM 14/11/12
BLOG FONTES DE ENERGIA:
As restrições ambientais têm provocado atrasos e limitações de projeto às
usinas hidrelétricas atualmente em construção no Brasil, principalmente as da
região Amazônica. Daqui para frente, só teremos usinas hidrelétricas a fio
d'água, ou seja, não teremos mais usinas com reservatório por conta dessas
questões?
BLOG FONTES DE ENERGIA: Para um sistema elétrico de qualquer país, é possível manter um fornecimento seguro, ou seja, fornecer energia quando houver demanda, sem hidrelétricas com reservatório e sem térmicas, incluindo as nucleares?
PROF. GOLDEMBERG: Com hidroelétricas a fio d’água o
fornecimento de energia nos períodos secos do ano depende de usinas térmicas
que são, de modo geral, péssimas para o meio ambiente. Fazer reservatórios em
muitos casos provoca menos impactos ambientais do que usar térmicas a carvão e
óleo combustível. É preciso comparar custos (ambientais) e benefícios e tomar
decisões nesta base.
BLOG FONTES DE ENERGIA: Quais as barreiras tecnológicas que ainda existem para a exploração plena do pré-sal? Há estimativas, em um cenário otimista, de que talvez haja, cerca de, 100 bilhões de barris de petróleo nas reservas do pré-sal. O senhor acredita nessa expectativa e qual o fundamento para tal previsão?
PROF. GOLDEMBERG: As estimativas otimistas para o pré-sal
(100 bilhões de barris) são exageradas. Realisticamente, no momento, só se pode
pensar em 10 ou 15 bilhões o que dobra as reservas brasileiras de petróleo que
são estimadas em 15 anos (na atual taxa de consumo de 2 milhões de barris por
dia). O petróleo do pré-sal vai ser caro – cerca de 60 dólares por barril e não
se pode esperar uma produção muito elevada antes de 2020.
BLOG FONTES DE ENERGIA: O que o senhor acha da perspectiva japonesa de "zerar" a fonte nuclear (cerca de 30%) na matriz energética e substituí-la por fontes renováveis, essencialmente eólica e solar, até 2030, do ponto de vista do fornecimento contínuo de energia, sem contar que, na transição de uma matriz por outra, térmicas a combustíveis fósseis serão acionadas?
PROF. GOLDEMBERG: Acho realista. Na transição, térmicas a
combustíveis fósseis serão acionadas, mas a racionalização do uso de energia no
Japão (isto é, maior ênfase na eficiência energética) está ajudando. Além disso,
o custo das fontes renováveis está caindo de modo que o Japão poderá
efetivamente abandonar a opção nuclear.
BLOG FONTES DE ENERGIA: A China utiliza, cerca de, 70% de carvão em sua matriz. Algum dia, no futuro, com o crescimento das renováveis principalmente, podemos esperar que esse país diminua a utilização desse combustível para, por exemplo, algo em torno de 40% (abaixo dos EUA)?
PROF. GOLDEMBERG: Sim, porque a China está usando tanto
carvão porque as usinas termoelétricas do país são da geração antiga com baixa
eficiência. As novas usinas com ciclo combinado e outros tem aperfeiçoamentos
que permitem produzir mais eletricidade queimando a mesma quantidade de carvão.
BLOG FONTES DE ENERGIA: O smat grid tem alguma chance de ser implantado no Brasil nos próximos 10 anos?
PROF. GOLDEMBERG: Sim, já existem
projetos de demonstração pioneiros em implantação (em Aparecida do Norte, por
exemplo) e a ANEEL baixou portarias que vão permitir o uso desta tecnologia em
todo o país sobretudo em cidades distantes não atingidas pela rede e onde a
eletricidade é muito cara.
BLOG FONTES DE ENERGIA: Qual
a opinião do senhor com relação à MP 579 adotada pelo governo em 11/09/12?
PROF. GOLDEMBERG: Precipitada. Não é realista esperar que
o custo de eletricidade baixe 20% renovando as concessões das geradoras de
energia elétrica. Geração representa apenas 10% do custo final da eletricidade.
O resto do custo vem da transmissão, distribuição e impostos. Baixar o custo de
geração é possível, mas não permitirá reduzir a conta de eletricidade sem que
os outros custos sejam também reduzidos.
BLOG FONTES DE ENERGIA: Térmicas à biomassa são viáveis do ponto de vista econômico e de capacidade de fornecimento de energia?
PROF. GOLDEMBERG: Claro e no Estado de São Paulo cerca de 2.000 megawatts já estão sendo
comercializados. Poderiam ser 6.000 megawatts se ajustes fossem feitos nos
leilões de eletricidade nova. A teimosia do Governo em não fazer licitações
separadas para as diferentes formas de energia é que é responsável pelo baixo
aproveitamento deste grande recurso que dispomos que é produzir eletricidade
com bagaço de cana.
O professor José Goldemberg é doutor em ciências físicas pela USP, sendo reconhecido em todo mundo por seus notáveis trabalhos e grande conhecimento. Ocupou vários cargos de relevância nos governos federal e estadual no Brasil, tais como Secretário do Meio Ambiente da Presidência da República; Ministro da Educação do Governo Federal e Secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo.
O professor José Goldemberg é doutor em ciências físicas pela USP, sendo reconhecido em todo mundo por seus notáveis trabalhos e grande conhecimento. Ocupou vários cargos de relevância nos governos federal e estadual no Brasil, tais como Secretário do Meio Ambiente da Presidência da República; Ministro da Educação do Governo Federal e Secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo.
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